O mercado global está cada vez mais atento à sustentabilidade, e o etanol verde, produzido a partir da cana-de-açúcar, desponta como um dos biocombustíveis mais eficientes e ambientalmente responsáveis. No entanto, para garantir aceitação e competitividade no mercado internacional, as certificações desempenham um papel crucial.
Essas certificações atestam que o etanol atende a critérios rigorosos de sustentabilidade, como redução de emissões de gases de efeito estufa e práticas de cultivo responsável. Este artigo explora as principais certificações internacionais para o etanol verde, seus requisitos e como os produtores podem obtê-las para acessar mercados globais com mais facilidade.
1. Por que certificar o etanol verde?
Certificar o etanol verde não é apenas uma exigência de mercado, mas uma estratégia para agregar valor e conquistar novos clientes.
1.1. Benefícios das certificações
- Acesso a mercados exigentes: Países como os da União Europeia e Estados Unidos possuem regulações rígidas para importação de biocombustíveis.
- Credibilidade ambiental: Certificações garantem que o produto cumpre padrões de sustentabilidade reconhecidos internacionalmente.
- Melhores preços: Biocombustíveis certificados geralmente são valorizados no mercado, oferecendo margens de lucro mais altas.
- Contribuição para ESG: Empresas certificadas demonstram compromisso com os pilares de governança ambiental, social e corporativa.
2. Certificações internacionais: quais são as principais?
Existem várias certificações internacionais voltadas ao etanol verde. Cada uma possui critérios específicos que avaliam desde a produção agrícola até a comercialização do produto.
2.1. ISCC (International Sustainability and Carbon Certification)
A ISCC é uma das certificações mais reconhecidas globalmente e atende tanto ao mercado europeu quanto a outros países.
- Critérios avaliados:
- Redução de emissões de gases de efeito estufa.
- Proteção da biodiversidade e áreas sensíveis.
- Rastreamento de toda a cadeia produtiva.
- Como obter:
- Realizar uma auditoria inicial com um órgão certificador credenciado.
- Demonstrar conformidade com todos os requisitos, incluindo documentação da origem da matéria-prima e práticas agrícolas.
2.2. RenovaBio (Renovação Nacional de Biocombustíveis)
Embora seja uma certificação brasileira, o RenovaBio tem grande influência no mercado internacional, pois atesta a eficiência ambiental do etanol.
- Critérios avaliados:
- Eficiência energética do processo produtivo.
- Redução de emissões em comparação aos combustíveis fósseis.
- Como obter:
- Inscrever a unidade produtora no programa.
- Submeter o processo produtivo a auditorias específicas para emissão de CBios (Créditos de Descarbonização).
2.3. RSB (Roundtable on Sustainable Biomaterials)
A certificação RSB é altamente valorizada por abordar a sustentabilidade em suas dimensões social, ambiental e econômica.
- Critérios avaliados:
- Uso eficiente de recursos naturais.
- Condições de trabalho justas.
- Impacto social positivo nas comunidades locais.
- Como obter:
- Enviar a documentação exigida para avaliação.
- Implementar um sistema de gestão para cumprir os padrões RSB, seguido de auditorias periódicas.
2.4. EPA (Environmental Protection Agency)
Nos Estados Unidos, a certificação da EPA é obrigatória para a comercialização de etanol como combustível renovável.
- Critérios avaliados:
- Redução de emissões de GEE conforme o Renewable Fuel Standard (RFS).
- Conformidade com os critérios de sustentabilidade agrícola.
- Como obter:
- Registrar-se no programa EPA-RFS.
- Demonstrar conformidade com relatórios de produção e rastreabilidade.
2.5. Certificação Bonsucro
Focada na cadeia produtiva da cana-de-açúcar, a Bonsucro é uma das principais certificações no setor sucroenergético.
- Critérios avaliados:
- Redução de impactos ambientais durante o cultivo.
- Eficiência na produção e uso de recursos.
- Condições éticas e seguras para os trabalhadores.
- Como obter:
- Realizar um diagnóstico da unidade produtora para identificar ajustes necessários.
- Passar por auditorias realizadas por empresas credenciadas pela Bonsucro.
3. Etapas para obter certificações internacionais
Embora os critérios variem entre as certificações, o processo geral segue etapas semelhantes.
3.1. Diagnóstico inicial
Realize uma análise detalhada das operações da sua unidade produtora para identificar os requisitos de cada certificação.
- O que verificar?
- Uso de fertilizantes e defensivos.
- Emissões de gases de efeito estufa.
- Documentação sobre rastreabilidade e origem da matéria-prima.
3.2. Ajustes no processo produtivo
Implemente práticas agrícolas e industriais que atendam aos padrões da certificação desejada.
- Ações comuns:
- Reduzir o consumo de água e energia.
- Garantir condições de trabalho adequadas para os colaboradores.
- Adotar tecnologias de precisão para monitorar a produção.
3.3. Contratação de auditoria
Escolha um organismo de certificação reconhecido para conduzir auditorias e validar a conformidade do seu processo produtivo.
3.4. Emissão do certificado
Após aprovação na auditoria, você recebe o certificado, que deve ser renovado periodicamente mediante novas auditorias.
4. Desafios e soluções no processo de certificação
Apesar das vantagens, obter certificações pode apresentar desafios significativos, especialmente para pequenos produtores.
4.1. Custos elevados
Os custos relacionados à adaptação do processo produtivo e auditorias podem ser altos.
- Solução: Busque apoio financeiro por meio de programas de incentivo governamental ou parcerias com usinas.
4.2. Falta de conhecimento técnico
Muitos produtores desconhecem os requisitos e benefícios das certificações.
- Solução: Invista em treinamentos para equipes técnicas e administrativas.
4.3. Rastreabilidade da cadeia produtiva
A rastreabilidade completa da matéria-prima é um dos critérios mais desafiadores.
- Solução: Utilize ferramentas de tecnologia, como softwares de gestão agrícola, para monitorar toda a cadeia produtiva.
5. Certificações e competitividade no mercado internacional
Produtores que investem em certificações não apenas atendem às exigências legais, mas também se destacam em um mercado global competitivo.
- União Europeia: A certificação ISCC é indispensável para exportar etanol verde para países europeus.
- Estados Unidos: A certificação da EPA permite que o etanol seja comercializado no maior mercado consumidor de biocombustíveis do mundo.
- Ásia e Oriente Médio: Mercados emergentes valorizam certificações como a Bonsucro, que garantem sustentabilidade na produção.
6. Exemplos de sucesso no Brasil
O Brasil é referência mundial na produção de etanol verde, e muitos produtores já conquistaram certificações internacionais.
6.1. Usina em São Paulo
Uma usina do interior paulista obteve a certificação Bonsucro após implementar práticas de redução de emissões e melhorias nas condições de trabalho. Resultado: aumento de 20% no valor do etanol exportado.
6.2. Parceria em Mato Grosso do Sul
Produtores de cana-de-açúcar se uniram para obter a certificação ISCC em um sistema cooperativo, compartilhando custos de auditorias e ajustes produtivos.
6.3. Produtor independente no Paraná
Um pequeno produtor obteve a certificação RenovaBio ao adotar tecnologia de agricultura de precisão e práticas de conservação do solo.
As certificações internacionais são ferramentas indispensáveis para o crescimento sustentável do setor de etanol verde. Além de atender às exigências de mercados rigorosos, essas certificações fortalecem a reputação ambiental dos produtores e agregam valor ao produto final.
Ao investir em práticas sustentáveis e no cumprimento de padrões internacionais, os produtores brasileiros não apenas ampliam sua presença global, mas também contribuem para a preservação do meio ambiente.
O futuro do etanol verde está diretamente ligado à sustentabilidade e à credibilidade, e as certificações são o caminho para conquistar ambos. Agora é o momento de agir, investir e liderar a transição para um mercado mais consciente e responsável.