O etanol verde, produzido a partir da cana-de-açúcar, é uma das principais soluções do Brasil para a transição energética global. Sua competitividade, no entanto, não se limita à eficiência produtiva, mas também ao atendimento de padrões rigorosos de sustentabilidade. Esses padrões são formalizados por meio de certificações, que podem ser nacionais ou internacionais.
Embora ambas compartilhem objetivos de garantir práticas sustentáveis, há diferenças importantes nos critérios, metodologias e impactos de cada tipo. Este artigo explora as particularidades dessas certificações, como elas afetam a exportação e qual a melhor estratégia para produtores e exportadores brasileiros.
O que são certificações na produção de etanol verde?
As certificações atestam que o etanol foi produzido seguindo critérios específicos de sustentabilidade ambiental, social e econômica. Elas são fundamentais para acessar mercados exigentes e consolidar a credibilidade do produto.
Por que as certificações são importantes?
- Garantem acesso a mercados regulados, como a União Europeia e os Estados Unidos.
- Agregam valor ao produto, permitindo negociações a preços mais altos.
- Fortalecem a imagem do Brasil como líder em energia renovável.
Certificação nacional: RenovaBio
O RenovaBio é o programa brasileiro de certificação de biocombustíveis, criado para alinhar o setor com as metas de redução de emissões do país. Ele avalia a eficiência ambiental de cada unidade produtora e gera os Créditos de Descarbonização (CBios), que podem ser comercializados no mercado financeiro.
Principais características do RenovaBio
1. Base legal e nacional: O programa é regulamentado pelo governo brasileiro e foca no mercado interno.
2. Eficiência energética: Avalia a pegada de carbono de todo o ciclo produtivo, incentivando melhorias contínuas.
3. Comercialização de CBios: Cada unidade produtora gera créditos baseados na redução de emissões, promovendo ganhos financeiros.
4. Aplicação regional: Embora seja reconhecido internacionalmente, o RenovaBio tem maior impacto no mercado doméstico.
Benefícios do RenovaBio para produtores
- Estímulo à adoção de práticas sustentáveis.
- Geração de receitas adicionais com CBios.
- Fortalecimento da competitividade no mercado interno.
Certificação internacional: ISCC e outros padrões
As certificações internacionais, como a ISCC (International Sustainability and Carbon Certification), são voltadas para atender às demandas de mercados externos, especialmente a União Europeia e os Estados Unidos.
Características principais da ISCC
1. Reconhecimento global: Exigida por mercados de alta regulação, como o europeu.
2. Critérios rigorosos: Abrangem aspectos ambientais, sociais e de rastreabilidade.
3. Neutralidade de carbono: Enfatizam reduções significativas na pegada de carbono ao longo de toda a cadeia produtiva.
4. Compatibilidade com a RED II: Atendem à Diretiva de Energia Renovável da União Europeia, garantindo acesso ao mercado europeu.
Outras certificações internacionais relevantes
- RSB (Roundtable on Sustainable Biomaterials): Foco na sustentabilidade integral, incluindo aspectos éticos.
- EPA (Environmental Protection Agency): Necessária para exportação para os Estados Unidos, com critérios específicos para biocombustíveis avançados.
Diferenças fundamentais entre certificações nacional e internacional
Aspecto | Certificação Nacional (RenovaBio) | Certificação Internacional (ISCC e outras) |
Alcance | Mercado doméstico | Mercados globais |
Critérios ambientais | Redução de emissões (CBios) | Sustentabilidade ampla (biodiversidade, rastreabilidade) |
Rastreabilidade | Menor exigência | Altamente rigorosa |
Reconhecimento | Limitado fora do Brasil | Ampla aceitação global |
Complexidade | Simples e custo acessível | Mais complexa e custo elevado |
Estratégias para cumprir ambos os padrões
1. Investir em tecnologia de rastreabilidade
O uso de blockchain e sistemas digitais facilita o monitoramento da cadeia produtiva, garantindo conformidade com certificações nacionais e internacionais.
2. Alinhar práticas agrícolas aos critérios globais
A adoção de práticas como conservação do solo, uso de defensivos biológicos e plantio em áreas previamente cultivadas atende tanto aos critérios do RenovaBio quanto aos padrões internacionais.
3. Capacitar pequenos e médios produtores
Oferecer suporte técnico e financeiro aos pequenos produtores garante sua inclusão em sistemas de certificação mais exigentes.
4. Priorizar mercados-alvo
Produtores devem avaliar as exigências dos mercados que desejam atender e priorizar certificações com maior retorno financeiro.
Benefícios de atender a ambas as certificações
A obtenção de certificações nacionais e internacionais não é apenas uma questão de atender a regulamentos. Trata-se de maximizar o potencial do etanol verde no mercado global.
- Acesso ampliado: Exportadores podem atender mercados diversificados, reduzindo riscos econômicos.
- Valor agregado: Produtos certificados alcançam preços premium, gerando maior lucratividade.
- Parceria estratégica: Atender aos padrões globais reforça o Brasil como fornecedor confiável de biocombustíveis.
- Sustentabilidade integrada: A combinação das certificações promove um impacto ambiental e social mais abrangente.
Tendências para o futuro das certificações
Com o aumento da demanda por combustíveis renováveis, espera-se que os critérios de certificação se tornem ainda mais rigorosos.
1. Maior foco na neutralidade climática: A UE e outros mercados buscarão biocombustíveis que ajudem a alcançar emissões líquidas zero.
2. Uso de subprodutos: Matérias-primas como resíduos agrícolas ganharão destaque em certificações futuras.
3. Harmonização de padrões: Esforços para alinhar certificações nacionais e internacionais podem reduzir custos e complexidade para os produtores.
Compreender as diferenças entre certificações nacionais e internacionais é essencial para que o Brasil maximize seu potencial no mercado de etanol verde. O RenovaBio oferece uma base sólida para o mercado interno, enquanto certificações internacionais, como ISCC, abrem portas para exportações estratégicas.
Ao investir em tecnologia, práticas sustentáveis e capacitação, os produtores podem atender simultaneamente a ambos os padrões, conquistando novos mercados e consolidando o Brasil como líder em energia renovável.
O etanol verde brasileiro tem o potencial de transformar a matriz energética global. Adotar estratégias para atender às certificações é o passo decisivo para garantir competitividade, sustentabilidade e relevância no cenário internacional.